A ortopedia pediátrica é uma área da ortopedia voltada para o diagnóstico e tratamento de alterações musculoesqueléticas em crianças e adolescentes. Muitas dessas alterações fazem parte do desenvolvimento normal, mas algumas podem exigir acompanhamento ou intervenção. Abaixo, explico de forma clara e direta as condições mais frequentemente observadas no consultório.

1. Pé Plano (Pé Chato)

O pé plano ocorre quando a criança não desenvolve o arco plantar, ou seja, a sola do pé permanece completamente em contato com o chão. Em grande parte dos casos, isso é fisiológico e melhora com o crescimento, especialmente até os 6 ou 7 anos de idade.

Quando se preocupar:

• Dor frequente nos pés ou pernas
• Cansaço ao caminhar
• Desequilíbrio ou quedas recorrentes
• Rigidez ou limitação de movimento no pé

Tratamento:
Na maioria das vezes, não é necessário nenhum tratamento. Casos sintomáticos podem se beneficiar de exercícios, palmilhas ortopédicas ou, em situações específicas, correção cirúrgica.

2. Alterações no Alinhamento das Pernas (Pernas Tortas)

Durante o crescimento, é normal observar alterações no alinhamento dos membros inferiores. Até os 2 anos, é comum o varo fisiológico (pernas arqueadas). A partir dos 3 ou 4 anos, muitas crianças apresentam o valgo fisiológico (joelhos juntos, formando um “X”).

Quando investigar:

• Persistência do desalinhamento após os 7 anos
• Assimetria entre os lados
• Presença de dor ou limitação funcional
• História familiar de doenças ósseas ou raquitismo

Tratamento:
A grande maioria dos casos se resolve com o crescimento. Casos persistentes ou severos podem demandar exames complementares e, eventualmente, correções com órteses ou cirurgia.

3. Marcha com os Pés para Dentro ou para Fora

Essas alterações são bastante comuns na infância e, na maioria dos casos, fazem parte do desenvolvimento natural do sistema músculo-esquelético.

Marcha com os pés para dentro (rotação interna):
Pode ser causada por rotação interna do fêmur (anteversão femoral aumentada), da tíbia ou do próprio pé.
Marcha com os pés para fora (rotação externa):
Menos comum, geralmente relacionada à rotação externa do fêmur ou tíbia.

Quando observar:

• Quedas frequentes
• Dor associada
• Assimetria entre os lados
• Piora progressiva com o tempo

Tratamento:
Na maioria dos casos, apenas acompanhamento. Exercícios e fisioterapia podem ser indicados em casos selecionados. A cirurgia é rara e reservada a alterações severas que persistem após o crescimento.

4. Dor de Crescimento

A dor de crescimento é uma queixa frequente, especialmente entre 3 e 10 anos de idade. Geralmente ocorre no fim do dia ou à noite, em ambos os membros inferiores, sem sinais de inflamação, inchaço ou limitação dos movimentos.

Características típicas:

• Dor difusa, principalmente nas coxas, panturrilhas ou atrás dos joelhos
• Melhora espontânea ou com massagem
• Sem febre, vermelhidão ou claudicação

Quando se preocupar:

• Dor localizada e persistente em um só lado
• Presença de inchaço, calor local ou febre
• Dificuldade para caminhar
• Histórico de trauma recente

Tratamento:
Orientações, compressas mornas, massagem e, eventualmente, uso de analgésicos simples. O acompanhamento com ortopedista é importante para descartar outras causas quando a dor é atípica.

Conclusão

Muitas alterações observadas durante o crescimento infantil são variações da normalidade e não necessitam de tratamento específico. No entanto, o acompanhamento com um ortopedista pediátrico garante um desenvolvimento saudável e permite a identificação precoce de alterações que requerem intervenção.

Se você tem dúvidas sobre o desenvolvimento do seu filho ou observou algum sinal que chamou atenção, agende uma avaliação.